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domingo, 22 de agosto de 2010

(extraído de um conto de Rubem Alves - O sapo)



Feitiço: o que é Feitiço? é quando uma palavra entra no corpo e o transforma. O príncipe ficou possuído pela palavra que a bruxa falou. Seu corpo ficou igual a palavra.



A estória do príncipe que virou sapo é igual a nossa própria estória. Desde que nascemos, continuamente , palavras nos vão sendo ditas. Elas entram no nosso corpo e ele vai se transformando. Virando uma outra coisa, diferente da que era. Educação é isso: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguais as palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim. Como disse Fernando Pessoa: "Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim". Meu corpo é resultado de um enorme feitiço. E os feiticeiros foram muitos: pais, mães, professores, padres, pastores, gurus, líderes políticos, livros, TV. Meu corpo é um corpo enfeitiçado: porque o meu corpo aprendeu as palavras que lhe foram ditas, ele se esqueceu de outras que, agora permanecem, mal... ditas...



A psicanálise acredita nisso. Ela vê cada corpo como um sapo dentro do qual está um príncipe esquecido. Seu objetivo não é ensinar nada. Seu objetivo é o contrário: des-ensinar ao sapo sua realidade sapal. Fazê-lo esquecer-se do que aprendeu, para que ele possa lembrar-se do que esqueceu. Quebrar o feitiço. Coisa que até mesmo certos filósofos (poucos) percebem.



"Procuro despir-me do que aprendi", dizia Alberto Caeiro. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu..."



E você, continua sapo?
(Colaboração da amiga Célia Maria Ribeiro)

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